sábado, 17 de agosto de 2013

A maturação da vida


A MATURAÇÃO DA VIDA

Clóvis Campêlo

Caros amigos, para que serve a vida a não ser para ser vivida? A pergunta, muito antes de ser poética, é existencial. Como diria aquela velha compositora biriteira, só nos resta viver. E a vida, para ser bem vivida, deve ser, acima de tudo, satisfatória. Ninguém vive bem alimentando frustações ou adiando realizações.
No entanto, diz o bom senso que projetos de vida mirabolantes sempre tendem ao fracasso. Assim, como caldo de galinha e cautela nunca fizeram mal a ninguém, é sempre bom não quer dar um passo maior do que as pernas podem dar. Reconhecer as suas potencialidade e limitações pode ser um bom começo. A isso geralmente dão o nome de maturidade e, via de regra, só nos chega quando já estamos em adiantado estado de vida.
À juventude, aliás, dá-se sempre o direito de achar que o mundo é simples e que as soluções dos seus problemas também passam pelo viés da simplicidade.
Quem vai querer entender, por exemplo, os intrincados mundos da ciência, dos negócios e das pesquisas? Para que se gastar tanto dinheiro com isso em vez de matar a fome e as doenças do chamado Terceiro Mundo? Eu mesmo, confesso, até hoje, mesmo em adiantado estado de vida, ainda não consegui entender, imaturo que sou.
Afinal, estamos todos no mesmo barco ou não? Somos irmãos, todos filhos do mesmo pai, ou alguns pagam por crimes que nunca cometeram ou nem sequer chegaram a imaginar?
Como de boa vontade o inferno sempre está cheio, fico a imaginar que esse estado de coisas é filho da esperteza de alguns, do convencimento da burrice de outros e da libertação conceitual de outros poucos abnegados e abdicados seres. O preço da liberdade é a eterna irrelevância.
De uma coisa, porém, eu tenho certeza: nenhuma das gigantescas estruturas criadas pelo Homem para dominar o mundo e os seus habitantes mais frágeis são capazes de se sustentarem por si próprias. São estruturas artificiais, estáticas, vampirescas e servem apenas para confundir e enfraquecer ainda mais as estruturas mentais dos homínculos dominados e escravizados. Um dia, meus filhos, nada disso será teu. Guarda portanto as tuas energias para o que realmente lhes seja dela merecedor. Não existe segurança alguma em nada, mas o prazer sempre estará a disposição de todos os que renegarem as tramas diabólicas do poder constituído e descobrirem o prazer da volta ao equilíbrio edênico do universo verdadeiro e paralelo.
Tudo é aqui e agora. Nada para o amanhã inexistente ou para um futuro de falsas premissas e inviável pela própria natureza. Os labirintos existem para os incautos. A infelicidade também.

Recife, 2013

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