sábado, 9 de novembro de 2013

Um título inequecível


UM TÍTULO INESQUECÍVEL

Clóvis Campêlo

Meus caros amigos, em 1970 o Brasil vivia uma das fases mais ferozes da ditadura militar, quando conquistamos a Copa do Mundo do México. Apesar das contestações dos teóricos esquerdistas, o povo foi às ruas e vibrou, referendando a conquista.
Naquela época, embora já movimentasse milhões e atingisse milhares de pessoas em todo o planeta, haja vista que foi a primeira copa transmitida via satélite para os países periféricos ao Primeiro Mundo, o evento ainda não se inscrevera no rol da indústria do entretenimento. Ganhar era uma circunstância e o importante ainda era competir. Era o chamado fairplay.
Mas, para alguns, o futebol era um dos ópios do povo, e utilizado, aqui no Brasil, pela ditadura militar para encobrir a sua violência repressiva e manter o regime de exceção. Consta, por exemplo, que o presidente Emílio Garrastazzu Médici influiu diretamente na convocação dos jogadores, impondo até a nome de Dario Peito-de-Aço, na época jogando no Atlético Mineiro, entre os jogadores convocados. Consta, também, e essa história seria depois desmentida pelo próprio treinador, de que João Saldanha teria sido afastado da direção técnica da seleção brasileira por conta da sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro.
O certo é que Zagallo assumiria o posto de técnico depois de Saldanha ter comandado o time durante as eliminatórias e ter classificado a nossa seleção com méritos. Com a mudança do treinador, mudaram também os jogadores convocados e o esquema de jogo, ficando para trás o convencional 4-2-4 de Saldanha, com Edu na ponta-esquerda, e entrando em cena o então inovador 4-4-3 de Zagallo, com Rivellino improvisado na esquerda como um falso ponta.
Na verdade, era o time de craques e as improvisações tiveram de acontecer para acomodar tantos bons jogadores em uma mesma equipe. Além de Rivellino na ponta-esquerda, Piaza improvisado como quarto-zagueiro e Tostão no comando do ataque. Os craques, com certeza, supriram as deficiências dos menos dotados tecnicamente, como o goleiro Félix e e zagueiro Brito. Consta até que, na verdade, a seleção era mesmo comandada dentro de campo por Pele é Gérson, embora Zagallo estivesse no banco de reservas ao lado de toda a comissão técnica.
No ataque, Pelé e Jairzinho complementavam a máquina mortífera de fazer gols. Em seis jogos, foram 19 gols marcados, superando a média de 3 gols por partida. Destaque ainda para os laterais Carlos Alberto Torres, Marco Antônio e Everaldo, além de Clodoaldo como cabeça de área.
Entre os reservas, jogadores de alto nível como o goleiro Leão e o meio-campista Paulo César Cajú.
Não é a toa que ainda hoje essa seleção brasileira de futebol seja considerada a melhor de todos os tempos entre os torcedores brasileiros e a crônica especializada.

Recife, 2013

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