sábado, 21 de dezembro de 2013

Um pouco de Nélson Ferreira


UM POUCO DE NÉLSON FERREIRA

Clóvis Campêlo

Apesar de ser torcedor do Santa Cruz, o maestro Nélson Ferreira nunca compôs um hino para o clube do seu coração. Ao contrário, compôs o hino do bloco Timbu Coroado, troça que no domingo de carnaval desfilava pelas ruas do bairro dos Aflitos, onde fica a sede do Clube Náutico Capibaribe, além do frevo “Come e Dorme”, feito em homenagem aos jogadores reservas do clube alvirrubro. Como se isso não bastasse, em 1955, a pedido de um jovem amigo da época, compôs o frevo canção “Cazá Cazá Cazá”, em homenagem ao clube da Ilha do Retiro.
Tal situação só foi corrigida em 2008, quando o Maestro Forró, também torcedor do tricolor do Arruda, utilizando os acordes de uma música inacabada do maestro Nélson, criou o frevo “Vulcão Tricolor”, saldando a dívida e satisfazendo e saudando a imensa torcida coral.
Hoje, quando se completa 37 anos da morte do maestro pernambucano, ocorrida em 1976, essa história irônica nos vem à lembrança.
Mas, embora continue sendo muito mais conhecido como um compositor de frevos, Nélson Ferreira foi autor de músicas em gêneros e estilos diversos (tangos, canções, valsas, foxtrotes, etc).
Nascido na cidade de Bonito, no agreste do Estado, em 9 de dezembro de 1902, segundo alguns estudiosos seus, até hoje Nélson Ferreira é um dos compositores nordestinos com mais músicas gravadas na discografia brasileira, muito embora a sua fama tenha praticamente se restringido a Pernambuco e ao Nordeste.
Como músico, tocava violão, violino e piano. No Recife, tocou em bares, cafés, saraus e cinemas, numa época em que os filmes do cinema mudo eram acompanhados com música ao vivo.
Como compositor, fez a sua primeira música, a valsa “Vitória”, aos 14 anos, por encomenda. Compôs frevos antológicos, como “Evocação nº 1”, sucesso no carnaval do Rio de Janeiro em 1957, cantada em ritmo de marchinha carnavalesca.
Além disso, foi diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco e da Fábrica de Discos Rozemblit, a única existente fora do eixo Rio-São Paulo nos anos 50.
Sua fama como compositor de frevos era tão grande que nos anos 70 recebeu do presidente Emílio Garrastazu Médici a condecoração de Oficial da Ordem do Rio Branco.
Faleceu no Recife, no dia 21 de dezembro de 1976, deixando inacabado um disco que preparava para o carnaval de 1977.
Hoje, no Recife, em uma pequena pracinha na Rua dos Palmares, no bairro do Santo Amaro, construída no lugar de uma casa demolida onde o maestro morou, existe um busto erguido em sua homenagem.
Evoé, Maestro!

Recife, 2013

3 comentários:

Gilvando Paiva disse...

Clóvis, pra mim o maestro Nelson Ferreira foi um gênio da música, fato ainda por ser reconhecido pelos seus conterrâneos.
Toca-me emocionalmente a sua composição "Diga-me", pela letra, pela melodia, pelo arranjo e pela magistral interpretação de Francisco Alves, o verdadeiro "Rei da Voz". Um abraço e Feliz Natal.

Clóvis Campêlo disse...

Grato pelo comentáro, Gilvando. Um Feliz Natal também para você e sua família.

Clóvis Campêlo disse...

Uma informação importante: segundo o pesquisador Leonardo Dantas Silva, ao contrário do que a maioria pensa, em 1957, quando da conquista do supercampeonato pelo Santa Cruz, Nélson Ferreira compôs o frevo “Supercampeão”, gravado por Claudionor Germano.