terça-feira, 15 de julho de 2014

Sem choro nem vela!


SEM CHORO NEM VELA

Clóvis Campêlo

Desonerados pela goleada sofrida contra a Alemanha, disputamos o terceiro lugar no sábado, em Brasília, e voltamos a amargar outra derrota: Holanda 3x0. Assim, de revés em revés, superamos duas marcas negativas ao longo da história da nossa seleção de futebol: levamos dez gols em dois jogos seguidos, fato absolutamente inédito, e sofremos duas derrotas consecutivas em uma mesma copa do mundo, o que não acontecia desde 1974, quando perdemos por 2x0 para a Holanda de Cruijf e Neeskens, e perdemos depois, na disputa pelo terceiro lugar, para a Polônia de Lato.
A nossa campanha, aliás, nesta Copa do Brasil foi bastante sofrível: em sete jogos, três vitórias, dois empates e duas derrotas. Marcamos onze tentos e sofremos quatorze, com um saldo negativo de três gols. Até a vitória contra a Colômbia, uma campanha razoável. Depois, o desastre total, o vexame.
Baseados na campanha vitoriosa da Copa das Confederações, no ano passado, quando no jogo final derrotamos por 3 x 0 nada mais nada menos do que a Espanha de Iniesta, campeã do mundo em 2010, na África do Sul, e vencedora do Campeonato Europeu de Seleções, em 2012, repetimos praticamente os mesmos jogadores e o mesmo esquema tático.
Desde a primeira fase, porém, que o rendimento brasileiro não se mostrou o mesmo. Quando o lateral esquerdo Marcelo, no jogo de abertura da Copa, marcou um gol contra em favor da Croácia, foi pouco confortado por toda a equipe. Apenas o goleiro Júlio César lhe foi solidário e o consolou. Toda a restante da equipe ficou indiferente, como se não tivesse nada a ver com o acontecido. Marcelo, aliás, que segundo alguns comentaristas esportivos brasileiros seria o jogador brasileiro cujo nível técnico mais se aproximaria do de Neymar, teve um desempenho apenas razoável. Toda a equipe, aliás, seguiu esse nível técnico. Até mesmo a dupla de zaga, formada por David Luiz e Tiago Silva, mostrou um desempenho de baixa qualidade, cometendo erros individuais e coletivos fatais e que influíram diretamente no resultado dos dois últimos jogos, comprometendo-se e comprometendo o conceito de grandes jogadores do qual desfrutavam.
No último jogo contra a Holanda, inclusive, quando um grande público compareceu à Arena Mané Garrincha, em Brasília, esperando uma grande vitória da Canarinha e uma atuação reabilitadora, mais outra imensa decepção. Vimos um time sem alma e sem garra ser facilmente envolvido pela Holanda de Robben e Van Persie que, sem muito esforço, nos impôs uma outra goleada.
Resta-nos agora iniciar um trabalho de renovação humano e conceitual, já que muitos dos jogadores do elenco atual estarão com a idade avançada na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, e já que os nossos conceitos táticos mostraram-se dentro de campo ineficazes e superados.
Nesta Copa do Mundo, lá se foi uma camisa amarela sem direito a choro e nem vela!

Recife, 2014

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