sábado, 8 de novembro de 2014

Quem viver, verá!



QUEM VIVER, VERÁ!


Clóvis Campêlo

Interessante essa história de José Sarney apoiar Dilma Rousseff e votar em Aécio Neves para presidente. Mais interessante, ainda, foi a desculpa dada por ele ao ser flagrado no ato. Disse que assim o fizera em homenagem a Tancredo Neves, avô de Aécio e primeiro presidente civil eleito pelo colégio eleitoral do Congresso Nacional.
Tancredo foi eleito mas não assumiu a Presidência. Uma diverticulite mal curada nos poupou do seu governo. Para quem não se lembra, foi o próprio Sarney, na condição de vice-presidente eleito, que se tornou o primeiro presidente civil pós-ditadura.
Como um pouco de história não faz mal a ninguém, vale lembrar também que Tancredo e Sarney bateram chapa com Paulo Maluf (ele mesmo!) e Flávio Marcílio, os candidatos do Governo Militar de João Figueiredo. Vitória significativa com 480 votos (72,4%). O povo brasileiro foi às ruas e aplaudiu o fim da ditadura. Com a morte de Tancredo Neves, político oriundo do Partido Social Democrático (PSD) e um dos líderes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) na luta pela redemocratização do país, assumiu José Sarney, instituindo a Nova República.
Transcrevo na íntegra a definição de Sarney dada pela Wikipédia: “José Sarney é o político brasileiro com mais longa carreira (59 anos) no plano nacional, superando o senador Limpo de Abreu (53 anos de carreira política e 36 como senador vitalício). Ruy Barbosa, o mais duradouro político no período republicano, foi senador por 31 anos contra os 36 de Sarney e Limpo de Abreu. Durante sua vida pública José Sarney atuou sob quatro constituições (1946, 1967, 1969 e 1988, esta última convocada por ele, no exercício da Presidência da República) e quatro governos sob a Constituição de 1946, seis no governos militares e, depois de seu mandato presidencial, cinco sob a Constituição de 1988 — 15 governos. Como parlamentar integrou 13 legislaturas, quatro como deputado federal e seis como senador. Era parte da oposição ao governo antes de 1964 e, a partir daí, parte das forças de apoio ao regime militar. Paradoxalmente, acabou sendo o primeiro presidente civil após o regime militar, em razão da morte de Tancredo Neves”.
Ou seja, na sua política longa e de certa forma coerente ideologicamente, talvez tenha sido esse o momento de maior sinceridade por ele expressado. Sozinho, no recesso da urna, não imaginava que alguém teria a perspicácia de observar-lhe o ato de cidadania e decifrar, pelos movimentos dos dedos, a definição do seu voto.
Cumprindo mais um mandato que lhe foi conferido pelo voto popular e um dos líderes do PMDB, partido fisiologista e com a maior bancada no Congresso Nacional, cujo apoio e composição é condição indispensável para viabilizar qualquer administração presidencial, Sarney ainda estará presente no cenário político brasileiro por um bom tempo.
Quem viver, verá!

Recife, novembro de 2014

Um comentário:

Aristóteles Coelho disse...

"Uma homenagem a Tancredo Neves"...uma homenagem secreta com sabor de traição? Ah, tá!