sábado, 20 de junho de 2015

Um machado afiado?


UM MACHADO AFIADO?

Clóvis Campêlo

Um dos ícone da literatura de língua portuguesa em todo o mundo, Machado de Assis, amanhã, estaria completando 176 anos de vida.
Nascido no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e falecido nesta mesma cidade em 29 de setembro de 1908. Segundo a Wikipédia, nasceu no Morro do Livramento, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou uma universidade. Seu pai era um mulato que pintava paredes, filho de escravos alforriados, e sua mãe era uma lavadeira portuguesa da Ilha dos Açores. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.
Ou seja, podemos definir Machado de Assis como o "branco mulato" ou o "preto doutor" de que nos fala Dorival Caymmi nas suas músicas. Sem dúvida alguma, o que alguns outros classificariam de um "alpinista social".
 Através do Facebook, entre os nossos amigos virtuais, lançamos uma pequena pesquisa com o intuito de captar como o escritor é visto hoje por seus leitores e admiradores. De imediato, percebemos que voluntariamente ou não, Machado de Assis foi lido pela grande maioria dos que nos responderam. Alguns, por questões disciplinares. Outros, por curiosidade juvenil, e que nem sempre ficou uma boa impressão da leitura.
Alguém chegou a considerá-lo um crítico da burguesia daquela época, enquanto Lima Barreto, um seu contemporâneo, hoje pouco falado, encarregou-se de traçar o retrato do "resto" social que pouco interessou a Machado.
Outro alguém, o classificou como "o pai da língua brasileira, no atacado e no varejo, do romance (Dom Casmurro, Memórias Póstumas...) ao conto (Missa do Galo, O Alienista...), sem falar na poesia... Na dimensão psicológica, eu o acho equivalente a Dostoievski, sem a visão trágica dos eslavos...".
Ou seja, Machado de Assis, na ironia e na ludicidade dos seus textos, permite-nos a dúvida, enquanto em Dostoievski, a dívida é paga com a tragédia. Será que Machado no alto da sua brasilidade mestiça já exercitava literariamente o chamado jeitinho brasileiro?
Mas, se a dúvida foi um dos ingredientes dos textos machadianos, como em Dom Casmurro, onde chegamos ao final do texto sem saber se realmente Bentinho foi traído por Capitú ou por sua imaginação, não se pode dizer o mesmo do mistério, quase ausente. Um outro amigo, porém, conta que estavam ele a esposa lendo na cama As Memória Póstumas de Brás Cubas, quando adormeceram. Ao acordarem, perceberam, que o livro havia sumido. Apesar das buscas intensas, nunca mais foi encontrado. Um verdadeiro mistério machadiano!
Mas afinal, quem seria o menino Joaquim Maria, que caminhos trilhara antes de chegar a ser o maior escritor brasileiro de todos os tempos (pompa contestada por algumas das respostas que recebemos...). Segundo o site Releituras, "de saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando".
No final da vida, ainda segundo o site Releituras, "era urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."
Afinal, cabe a um grande escritor a obrigação de reescrever o mundo com uma proposição mais justa e mais humana, ou o seu papel literário não passa obrigatoriamente por essa função? O que acha disso?

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