terça-feira, 6 de junho de 2017

O cinquentão Sargento Pimenta


O CINQUENTÃO SARGENTO PIMENTA

Clóvis Campêlo

Lançado no Reino Unido no dia 26 de maio de 1967, o velho Sargento Pimenta completou cinquenta anos de vida bem vivida. No Brasil, não lembro a data do seu lançamento, mas foi um rebuliço tremendo. Estávamos em plena ditadura militar e os Beatles enveredavam pela psicodelia. Barato total.
Para mim, comprar o disco não foi fácil. Aos dezesseis anos de idade, ainda sem trabalhar e vivendo numa família em crise existencial e financeira, tive que me virar. Junta daqui e junta dali, chegamos ao patamar desejado. Conseguida a quantia necessária com uma pequena ajuda dos amigos, lá fomos nós para a Casa Rubi, na Rua do Sol, no centro antigo do Recife, às margens do Rio Capibaribe, comprar a preciosidade. Afinal, o nordestino é, antes de tudo, um forte.
Decepcionante foi chegar em casa e verificar que o alto-falante da minha pequena vitrola, havia estourado. Era a hora de mais uma vez exercitar a criatividade. Liguei a pequena caixa de som no alto-falante da televisão em preto e branco do meu pai, uma velha Müllard cansada de guerra, e funcionou. Logo o som estridente se espalharia pela sala. Extasiado, eu queria mais, Não me cansava de ouvir aquilo tudo, para desespero da velha Macionila, a nossa secretária, uma interiorana da cidade de Lagoa dos Gatos, que carinhosamente chamávamos de Lila. Reclamou da música estranha e pediu uma música de Vicente Celestino. Fui impiedoso. Aquela não seria a hora adequada para fazer concessões. Ela que tratasse de entender e gostar dos Beatles. Afinal,o LP gravado com todos os requintes da tecnologia de ponta e da criatividade da época estava sendo escutado naquela gambiarra funcional. Pra mim, ótimo!
Ali estava o oitavo LP da banda que revolucionava a música pop. O disco era conceitual e inovador, não só pelas músicas criadas, como pelas técnicas de gravação utilizadas pelo grupo e seus engenheiros. Não havia como ignorar tudo isso. Entre o mar e a maré, o Pina dos anos 60 estava antenado e ligado nas novidades do grupo. Hoje, no auge da maturidade cronológica mas ainda apaixonado por tudo o que os Beatles foram, são e serão, leio coisas engraçadas que foram escritas sobre o grupo e o disco, naquela época.
Por exemplo: “Sgt Peppers “reconcilia os ideais estéticos diametralmente opostos da música clássica e da psicodelia, angariando uma síntese psicoclássica das duas formas musicais”. Engraçadíssimo! Mas dá para entender? Quem disse isso foi um tal de Nahptali Wagner, para mim, um ilustre desconhecido, uma eminência parda, pegando carona no sucesso do momento.
Outra joinha: “Além de importante trabalho da psicodelia britânica, o disco de multigêneros incorpora diversas influências estilísticas, incluindo, vaudeville, circense, music hall, avant-garde, e música clássica ocidental e indiana”. Não sei quem falou isso, mas está lá na wikipédia. Era inteligência demais para a minha cabeça adolescente. E enquanto as galinhas cacarejavam no quintal, eu aumentava o volume pra curtir aquele rock'n'rool. A novidade vinha dar na praia do Pina. Graças a Deus e aos Fab Four. Naquele momento, a felicidade não era uma arma quente. A felicidade era poder olhar a cara aparentemente tranquila do Sargento Pimenta.
Je vous salue, meninos de Liverpool!

Um comentário:

Antônio Leal de Campos disse...



Prezado Clóvis,

Boas e saudosas lembranças, meu caro.

Semana passada fui dar uma geral nos meus velhos vinis dos Beatles
e lá encontrei um original & cinquentão Sargento Pimenta vivinho da silva,
de capa dupla plastificada, lançado por aqui em 67.

Por coincidência, ontem resolvi juntar todos os meus cds dos Beatles,
com músicas interpretadas pelo Fab 4 e com suas músicas interpretadas por outros conjuntos
e cantores:deu um total de 80 cds. E ainda está faltando.

Beatles e Luiz Gonzaga são bons até quando interpretados
pelos piores cantores e bandas do mundo.

abraçanto
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