quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Entre a burguesia e a revolução




 

Fotografias de Clóvis Campêlo / agosto 2017

ENTRE A BURGUESIA E A REVOLUÇÃO

Clóvis Campêlo


Já se disse que a fotografia e o cinema, enquanto artes modernas, só surgiram quando a evolução da tecnologia burguesa permitiu a criação de máquinas e engenhocas apropriadas para isso, diferentemente da música, do teatro e da literatura, artes que existem desde a Antiguidade.

No que tange especificamente à fotografia, a sua origem remonta ao Renascimento, com o desenvolvimento da câmara escura, artefato supostamente existente desde o século V aC. O uso mais intensivo dessa surgiu a partir da necessidade dos pintores renascentistas de copiarem a realidade com fidelidade.

A realidade fielmente copiada, porém, não foi e nem é suficiente para nos dar a dimensão exata do mundo multifacetado em que vivemos. Nem sempre o simulacro reproduz com fidelidade esse mundo e a sua contextualização. É aí que entra a arte do fotógrafo e a sua capacidade de fazer leituras diferenciadas. O mesmo objeto, numa mesma época e situação especial pode ter realçado detalhes diferentes e diferenciadores.

Além do mais, fotografar não é apenas perseguir o belo e o inebriante. Ao fotógrafo também se permite a caça ao grotesco, ao feio, ao sujo e ao politicamente “incorreto”.

Diferentemente do pintor, que pode dispor do tempo que achar necessário para criar a sua obra, o fotógrafo às vezes dispõe apenas de segundos para efetuar a sua captura. Um simples hiato temporal pode modificar todo o significado plástico e poético de uma imagem capturada.

Mas não era a minha intenção teorizar sobre a arte burguesa da fotografia, e sim falar sobra a sua utilização política e social. A arte de fotografar hoje pertence a todos, independentemente das suas posições, políticas, religiosas ou filosóficas. E essa apropriação é mais do que devida.

As fotografias acima, foram feitas no Pátio do Carmo, no Recife, em agosto próximo passado, enquanto aguardávamos a chegada do ex-presidente Lula e da sua caravana.

Serve para mostrar o perfil dos que o apoiam e acreditam na sua proposta política e governamental. Podemos observar não só o óbvio com também as mensagens subliminares nelas existentes. Podemos ver a democrática utilização das cores, mesmo com a predominância de alguns tons mais fortes.

E como já disse o poeta em um moderno frevo-canção, se a praça é do povo como o céu é do avião, nada mais justo do que a sua ocupação seja devidamente registrada e sirva para demonstrar e provar as suas opções e preferências.
Ao povo, o que é do povo! As lutas, a labuta, as caras, as cores, os credos, os cantos. A satisfação de simplesmente ser, sem a necessidade de subterfúgios, escamoteamentos ou cretinices.

Sem medo nenhum de ser feliz.

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