sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Bloco Carnavalesco Madeira do Rosarinho

Fotografia de Victor Soares

BLOCO CARNAVALESCO MADEIRA DO ROSARINHO

Clóvis Campêlo

A pesquisadora Lúcia Gaspar, no site da Fundaj, assim o descreve: "Um dos blocos carnavalesco mistos mais tradicionais do Recife, o Madeira do Rosarinho, foi criado por Joaquim de França e um grupo de dissidentes, no dia 7 de setembro de 1926, por causa de divergências com a diretoria do antigo bloco Inocentes do Rosarinho. Inicialmente, o grupo pensou em chamar o de gogoia, por estar reunido embaixo de uma árvore dessa espécie, mas houve um consenso de que o nome não “soava bem”. Cogitou-se então chamá-lo Madeira que Cupim não Rói, por ser a gogoia uma madeira resistente. Por fim, optou-se por Madeira do Rosarinho".
O historiador Carlos Bezerra Cavalcanti, no livro O Recife e seus bairros, ao comentar sobre o bairro da Encruzilhada, assim se pronuncia: "Os blocos, como Madeira e Inocentes do Rosarinho, Clube das Pás Douradas, Maracatu de Dona Santa, vinham se exibir no Largo que ficava todo embandeirado e iluminado, dispondo ainda de palanques, barracas, abres e sistema de alto-falante por onde se ouvia, exclusivamente, a maravilhosa música pernambucana, hoje tão esquecida na sua própria terra".
Voltando a Lúcia Gaspar, no seu artigo da Fundaj: "Seu símbolo é um escudo, semelhante aos de clubes de futebol, nas cores vermelha, branca e verde, com uma figura mascarada no centro. A sede do bloco, no bairro do Rosarinho (Rua Salvador de Sá, 64), é um local de entretenimento para a comunidade e para os recifenses em geral. Com capacidade para cerca de mil e quinhentas pessoas, o bloco realiza festas e bailes nos seus salões durante o ano todo, além dos dias de Momo. Na quarta-feira de cinzas, o Madeira do Rosarinho sai às ruas com o Bacalhau do Madeira, bloco que arrasta uma multidão de foliões pela comunidade e seu entorno". E conclui: "O Madeira participa do Concurso de Agremiações Carnavalescas do Recife e é detentor de um hexacampeonato e mais de vinte títulos, entre os quais o de Campeão da Primeira Categoria, em 2005, e do Grupo I, em 2007. Seu desfile acontece no domingo de Carnaval. Conta com um coral profissional, uma orquestra com vinte músicos e cerca de 190 componentes distribuídos em onze alas, além de diversas fantasias nas cores tradicionais do Bloco. Seus ensaios acontecem sempre nas segundas-feiras".
Em matéria publicada no Diario de Pernambuco do dia 1º de fevereiro de 2016, a jornalista Luce Pereira assim se manifesta: "Minha senhora, meu senhor, tem hora em que os versos repetidos à exaustão parecem grudar nos miolos feito tatuagem. Caso de Madeira que cupim não rói (Capiba) outro clássico das multidões, embora padeça da mesma indiferença por parte de quem ouve e canta. Mal associam o hit carnavalesco ao bloco ao qual pertence, e então imagina-se que nem de longe saibam a história por trás da letra. Mas aqui a explicação precisa ser dada com detalhes, porque ele é o hino, a carteira de identidade de um dos clubes mais tradicionais do Recife, o Madeira do Rosarinho, que nasceu no dia 7 de setembro de 1926. Noventa anos. Já estreou na folia, é bom que se diga, com a sina de não levar insatisfação para casa. Surgiu de uma dissidência do Inocentes do Rosarinho, este batizado oito meses antes, em 18 de janeiro do mesmo ano. Foram parecidos apenas na maneira de nascer – o primeiro, de uma conversa entre cinco amigos mantida embaixo de uma jaqueira, o último, sob a sombra de uma árvore de gogoia. Consideremos que a mesma rivalidade observada hoje entre as escolas de samba cariocas e paulistas existia entre os blocos mais tradicionais de Pernambuco. Viria de uma destas brigas a música cantada a plenos pulmões, ainda hoje, por milhares de brincantes espalhados pelo estado inteiro. Sim, porque, naquela época, respostas a insatisfações aconteciam através de palavras musicadas com maestria. Ao menos por isso já vale a pena dizer: bons tempos, aqueles.Era 1963. Momo reinava em Pernambuco, o Madeira já tinha 37 de vida, e eis que os juízes do concurso daquele ano resolvem conceder o título de vencedor do carnaval ao também tradicionalíssimo Batutas de São José, uma disputa que, de acordo com o sentimento do preterido, pareceu “marmelada”. Para a sorte daquela e das futuras gerações de loucos por folia, entrava em campo a genialidade de Capiba, chamada para transformar a revolta em desabafo e o perdedor (de direito) em vitorioso (de fato). Resultado: com o segundo lugar, espécie de “campeão moral”, o Madeira acabou encontrando a fórmula para nunca mais sair da boca do povo".
Voltemos, porém, para o texto de Lúcia Gaspar, que assim se colocou sobre as principais músicas do bloco famoso e querido: "São destaques no seu repertório musical as marchas Me apaixonei por você, Pára-quedista (grafia da época) e, a mais famosa delas, Madeira que cupim não rói, composta por Capiba, em 1963, como uma forma de protesto contra o resultado do concurso de blocos daquele ano, que concedeu o primeiro lugar ao Batutas de São José, como diz, principalmente, a segunda estrofe da música".
Veja abaixo a letra de Madeira que cupim não rói:

MADEIRA QUE CUPIM NÃO RÓI

Capiba

Madeira do Rosarinho
Vem à cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original

Não vem pra fazer barulho
Vem pra dizer e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão

E se aqui estamos, cantando essa canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeiras de lei que cupim não rói

- Postagem revisada em 06/02/2018

2 comentários:

Unknown disse...

Uma história linda

Unknown disse...

Obrigada por nos contar essa história magnífica sobre essa música linda e histórica.