sexta-feira, 23 de março de 2018

Moraes Moreira, Benedito Lacerda e o pombo-correio

 Benedito Lacerda e Pixinguinha

 Moraes Moreira e os Novos Baianos

MORAES MOREIRA, BENEDITO LACERDA E O POMBO-CORREIO



Clóvis Campêlo



Compositor, flautista e maestro, Benedito Lacerda nasceu na cidade fluminense de Macaé, em 14 de março de 1903. Compositor, cantor e violonista, Moraes Moreira nasceu na cidade baiana de Ituaçu, no dia 8 de julho de 1947. Quatro décadas, portanto, separam os nascimentos do dois compositores brasileiros.

O primeiro, já no Rio de Janeiro, iniciou sua trajetória musical tocando bumbo na banda do Exército. O segundo, começou tocando sanfona de doze baixos nas festas da sua cidade natal.

Lacerda, que chegando ao Rio foi morar no morro do Estácio, cresceu cercado de chorões e sambistas, convivendo com gente de peso na MPB, como Noel Rosa. Moreira, em Salvador, conheceu Tomzé e Baby Consuelo, ao lado da qual formou o grupo Novos Baianos, do qual foi integrante de 1969 a 1975.

Benedito Lacerda morreu no Rio de Janeiro, em 16 de fevereiro de 1958, quando Moraes Moreira tinha apenas dez anos de idade. Este último continua por aí em carreira solo. Ao todo, segundo a Wikipédia, tem mais de 40 discos gravados em carreira solo, ao lado dos Novos Baianos ou com outros grupo e artistas.

Todo esse preâmbulo introdutório foi por nós utilizado apenas chegarmos a um ponto em comum nas suas composições: ambos criaram músicas utilizando o pombo-correio como tema. As composições, inclusive, são homônimas.

Na sua música Pombo-Correio, Benedito Lacerda assim se expressa: “Soltei meu primeiro pombo-correio / com uma carta para a mulher / que me abandonou; / Soltei o segundo, o terceiro / o meu pombal terminou / ela não veio e nem o pombo voltou”.

O compositor, portanto, chora não apenas a perda da mulher amada, mas também a sua indiferença, não lhe respondendo as cartas e nem lhe devolvendo os pombos de estimação. Pura ingratidão.

Moraes Moreira canta assim o seu Pombo-Correio: “Pombo correio / Voa depressa / E esta carta leva / Para o meu amor / Leva no bico / Que eu aqui / Fico esperando / Pela resposta / Que é pra saber / Se ela ainda gosta de mim”. No bico do pombo de Moreira ainda existe a esperança de uma resposta positiva, portanto, onde retornem o pombo e a mulher amada. Afinal, a esperança é a última que morre.

Na segunda parte da sua canção, Lacerda revela como o fim daquele amor desarrumou a sua vida: “Depois que aquela mulher me abandonou / não sei porque minha vida desandou / O canário morreu / a roseira murchou / o papagaio enlouqueceu / e o cano d'água furou. / E até o sol por pirraça / invadiu a vidraça e o retrato dela desbotou”. Sem o comando feminino, o mundo do compositor caiu e não só ele foi vítima desse desequilíbrio, como também tudo o que o cercava. Nada de um final feliz.

Moreira, pelo contrário, deixa o final em aberto: “Pombo-correio se acaso um desencontro / acontecer não perca nem um só segundo / voar o mundo se preciso for / o mundo voa / mas me traga uma notícia boa”. Portanto, seja lá qual for a situação encontrada pelo pombo na sua missão, fica a esperança do compositor de que ele retorne e lhe traga boas novas. Afinal, a vida é bela e deve continuar.
Aliás, nos tempos modernos de hoje, onde predominam a internet, o facebook e o whatsapp, é difícil imaginar um singelo pombo-correio atravessando os céus do Brasil para entregar uma carta de amor.

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